Entrei no jardim de meu mundo a fim de colher as mais belas rosas que encontrasse,  rosas que estariam expostas na janela de minha casa. Contudo, quando caminhava em direção ao canteiro, algo chamou minha atenção: uma borboleta.  O bater de suas asas me convidou a admirar aquele instante. As horas passaram e ali estávamos: eu, a borboleta, o jardim e o tempo.

Pensar em um jardim florido é transportamo-nos para um lugar de tranqüilidade. É desejar calma, o que é compreensível nesse mundo de correrias. É almejar por uma companhia, uma vez que essa realidade separa-nos de quem amamos, queremos, enfim, desejamos. Em meio às flores, rosas e orquídeas estão detalhes que não são valorizados. É um beija-flor que se alimenta, uma lagarta que olha para o alto, vê as  pétalas e sonha.  Sonhar parece ser cada vez mais raro, os dias impõem sobre nós responsabilidades  que pesam, elas sobrecarregam nossos ombros a ponto de inclinarmos nossas cabeças e não mais olharmos para  o céu.

Desejamos um jardim para plantar não apenas rosas…mas para plantarmos a nós mesmos. Na esperança de colhermos um novo ser, um “Eu” renovado. Ao olhar as lagartas deste nosso jardim temos muito a aprender. Percebemos que a vida é difícil para todos, a suposta facilidade de alguns posteriormente mostrará que era irmã siamesa da dificuldade. A lagarta que caminha na grama verde de nosso jardim nos mostra que é possível mudar. Que para voar, precisamos conhecer o solo. Não há voo marcante sem um pouso. Conhecer os diferentes tipos de terreno, as pedras que são firmes, as rochas que rolam…isso tudo fará diferença durante o retorno à terra firme. O voo traz consigo a sensação de êxtase, o que nos tenta a continuar planando. São aspectos marcados no rastejar das lagartas que passam por nós todos os dias.

Em momentos difíceis nos recolhemos ao nosso jardim na intenção de ter nossas angústias aliviadas pelo aroma das flores, de ter nossas feridas saradas pelo bálsamo retirado das pétalas. Mas ansiamos para que esse bálsamo seja aplicado por  outro ser, para alguns um príncipe ou princesa, um plebeu ou feiticeira, um anjo ou profetisa. Mas não é o bálsamo que efetuará a cura e sim o toque das mãos deste ser em nossa pele. Como uma borboleta que ao pousar em nosso ombro nos traz paz, assim é o encontro de duas peles nesse jardim. Borboleta que outrora era aquela lagarta que trilhava sob e sobre as flores. Borboleta que traz em suas asas um convite: “voemos o mais alto, o possível começa com o sonhar”. Ela, quando lagarta, caminhava e olhava para o alto, sabia o que queria. De fato sabemos o que queremos? Ou nos conformamos com o peso sobre nós a ponto de esquecer que o céu existe?

O tempo não nos permite viver tanto quanto gostaríamos, mas nos dá a chance de viver. Compete a cada um de nós escolher entre a vida e a existência. Voar para os mares apontados pela rosa-dos-ventos é uma opção que gerará conseqüências. Dançar a luz da lua no jardim também produzirá resultados. São os temores do amanhã que nos impede de bailar ao  som da brisa, de voar em direção às estrelas, de planar sobre o azul dos mares. E vendo as borboletas aprendemos que: “ devemos tirar menos rosas e plantar mais, assim alcançaremos os céus e seus anjos, não o céu cristão, mas o nosso céu”